Estive recentemente num bate papo sobre os aprendizados do processo de se criar um unicórnio. Algumas coisas chamaram bastante minha atenção pela simplicidade, outras coisas, por outro lado, pela tranquilidade e coerência na tomada de decisões baseadas num elemento fundamental: bom senso.
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Além disso, assim como aconteceu durante o SaaStr 2018, fiquei muito feliz em confirmar em mais essa oportunidade, que o que fazemos, promovemos e desenvolvemos no programa de aceleração da ACE é, exatamente, o que os empreendedores de sucesso acreditam ser o que faz toda diferença nos resultados.
Os aprendizados de quem atingiu o alto nível
Compartilho abaixo os principais insights e aprendizados dessa jornada empreendedora, que partiu da observação da oportunidade e seguiu pela ideação, passando pelas dores e delícias do crescimento que resultou na venda da empresa:
- Foco é absolutamente fundamental. É preciso resistir à tentação de abrir o leque muito cedo. Às vezes pode parecer simples quando na verdade pequenas extensões são negócios totalmente diferentes.
- Neste sentido cabe uma comparação com o jogo WAR. A pior estratégia do War é colocar um exército em cada país, onde a consequência é que acabará sendo atacado por todo mundo.
- Gente é importante, mas como praticar no dia a dia? Esse é um dos principais desafios e compromissos de todos os founders, principalmente o CEO.
- O seu time hoje é melhor que os concorrentes? Se não é, precisa ser. Montar uma equipe talentosa e competitiva deve ser meta diária. A principal função dos empreendedores é montar uma equipe sensacional.
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- Trazer gente mais jovem com muito talento, olhar menos para experiência e mais para o potencial, brilho nos olhos, capacidade de realização, etc.
Prática de fazer 5 entrevistas para seleção de alguma posição um pouco mais relevante.- Por exemplo, o coordenador precisa entrevistar 30 pessoas para escolher 1 estagiário. Dá trabalho escolher bem.
- Os candidatos sempre vieram por meio de indicações, sites de recrutamento, mas como estratégia era o patrocínio e participação de eventos universitários.
- Às vezes é melhor decidir rápido do que decidir certo. Velocidade é fundamental, criar cadência de sempre correr atrás, ter velocidade maior que os concorrentes. Se errar corrige e segue em frente, o importante é a velocidade de execução. Tem que ter pressa, tem que correr, não tem jeito.
- Errar faz parte do processo, então o importante é aprender rápido. Velocidade não vale só para execução, mas também de aprendizado.
- Rodar o ciclo de feedback é muito importante, baseado nele é que melhorarmos o produto, atendimento, etc (é o princípio do Lean Startup).
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- Olhar OKR trimestralmente. Na China, por exemplo, é feito mensal, algumas coisas que por aqui são mensais lá eles fazem semanal.
- A empresa começou em 2012 com U$ 10 mil de cada um dos 3 sócios. Terminaram o primeiro ano com mais ou menos 10 funcionários.
18 meses depois do investimento semente, levantaram rodada série A de U$ 15MM, depois veio a rodada série B de U$ 25MM, lideradas por fundos como Tiger Global, Monashees e Qualcomm Ventures. Em 2017 recebeu U$ 100MM do fundo SoftBank, e finalmente, adquirida em janeiro de 2018 pela chinesa Didi Chuxing na operação avaliada em mais de U$ 1 Bilhão.
- O empreendedor tem que entender as rodadas de investimentos como parte do jogo. Deve se preparar muito bem para a trilha de funding, é um processo contínuo de sempre conversar com potenciais fundos e investidores. O CEO tem que encaixar essa agenda no seu dia a dia para tocar em paralelo, para quando precisar levantar dinheiro já ter mapeado as possibilidades.
- É muito importante trazer investidores muito bem alinhados com o negócio, com os planos de futuro, etc, senão pode muito mais atrapalhar do que ajudar.
- Sobre valuation é simples, ele é o resultado da conta: quanto dinheiro eu preciso? O valuation acaba sendo uma conta de chegada, nunca fale quanto você acha que vale, comece deixando o outro lado avaliar e te posicionar.
- O breakeven para uma startup de alto crescimento vem ao custo de parar o crescimento acelerado.
- Faturamento é fundamental, mas não é a única métrica de avaliação do negócio.
- Os indicadores de construção no início não são financeiros, mas os que estão diretamente relacionados com a saúde e estrutura do negócio: quantos usuários temos cadastrados na base? Dos usuários cadastrados, quantos são ativos? Etc. O importante é ter um caminho para gerar receita e monitorar os indicadores de tração e crescimento do negócio.
- Em geral o modelo de bootstrap é interessante para não depender de ninguém de fora, mas acaba limitando no caso de startup de tecnologia que precisa de desenvolvimento, principalmente após validação do negócio e início da tração (MVP Bootstrap > Anjo > Seed > Série A > Série B > etc)
- É importante ter diversidade na empresa. Ajuda a tomar melhores decisões. Mas na cultura e nos valores tem que ser uma coisa só.
- Incorporar a cultura na avaliação de desempenho, realizada a cada 6 meses, foi fundamental para manutenção e consolidação do nosso jeito de fazer as coisas acontecerem.
De quem estamos falando?
E aí, já descobriu qual é a startup? Se disse 99, acertou. O relato foi feito pelo Paulo Veras.
A 99 começou com U$ 10 mil de cada um dos 3 sócios: Paulo Veras, Renato Freitas e Ariel Lambrecht.
O Paulo foi responsável pelo negócio, Renato por tecnologia e o Ariel pela jornada do usuário, facilidade de uso do app, entre outras coisas, olhando sempre para a cabeça do motorista e as necessidades dos usuários.
A trajetória da empresa é um claro sinal de quanto a aplicação de valores fundamentais de gestão para startups, como foco, empenho na validação e cuidado com o time podem fazer toda a diferença no sucesso de uma empresa. Ninguém vira unicórnio à toa!