EnglishPortugueseSpanish

O panorama de investimentos Venture Capital no Brasil: o que podemos aprender com ele?

venture capital

Mergulhamos em análise do mercado de investimento no Brasil para tentar entender melhor onde estamos, onde vamos e o que esperar para nossos empreendedores. A minha principal fonte foram os números reportados no Crunchbase, que é uma plataforma estilo Wikipedia, aberta e colaborativa, sem verificação completa das informações. Nesse levantamento, não levamos em conta investimentos de aceleradoras e nem de Fundo Private Equity. Consideramos rodadas lideradas por anjo ou investidores Venture Capital institucionais. Além disso, como referência, convertemos todos valores em Real, com a PTAX média de cada ano. Segundo os dados, já foram feitos R$ 7,7 bilhões em investimentos Venture Capital no Brasil.

Onde estamos?

panorama venture capital

fonte.

O Brasil lidera, de longe, o caminho dos investimentos VCs na América Latina. Quando conversamos com algumas startups de países vizinhos, estabelecendo comparações, vemos que o Brasil realmente tem um mercado gigantesco. Este grande potencial tem atraído muitos investidores estrangeiros, assim como alguns empreendedores de fora também.

atividade venture capital

Gráfico: Volume investido por Venture Capital (em R$ mm) e no Número de rodadas

A Maturação do Mercado de Venture Capital no Brasil

Desde 2013, o volume de investimento de Venture Capital (VC) no Brasil aumentou quase 10 vezes. No entanto, o número de rodadas tem diminuído levemente nos últimos dois anos, o que indica uma maturação do mercado. O comportamento dos investimentos de VC no Brasil tem sido semelhante ao dos Estados Unidos, com menos rodadas, porém maiores volumes de capital por rodada. (pela tradicional Pitchbook). Com o aumento de investidores americanos no Brasil, é possível inferir que a atividade de VC no Brasil tem uma forte correlação com a dos EUA, apesar de o volume transacionado lá ser cerca de 100 vezes maior.

Nos últimos anos, o ecossistema brasileiro de startups evoluiu significativamente, como demonstram os primeiros unicórnios do país, NuBank e 99, em 2018. Também observamos um número crescente de startups levantando rodadas Series-A, além de empresas de tecnologia brasileiras realizando IPOs de sucesso.

 

atividade venture capital

O crescimento dos investimentos Late-Stage e o papel dos investidores estrangeiros

Com o amadurecimento das startups e do ecossistema como um todo, o Brasil tem vivenciado uma forte onda de investimentos Late-Stage, que impulsiona a atividade de VC. No entanto, os investimentos em Seed, Angel e Series A ainda não mostraram o mesmo crescimento expressivo. O valor médio investido por rodada tem aumentado, especialmente em estágios mais avançados, elevando os valuations das startups e criando os primeiros unicórnios brasileiros. Ainda assim, o Brasil permanece atrás dos níveis globais em termos de investimento.

O crescimento do Venture Capital no Brasil tem sido impulsionado principalmente por rodadas Series-C e posteriores, voltadas para unicórnios ou candidatos fortes. A entrada de investidores estrangeiros, como o Softbank, que investiu na 99, e outros grandes fundos globais, reforça a tese de que o ecossistema brasileiro está se tornando mais maduro e atrativo para capital estrangeiro. Investidores brasileiros lideram o maior número de rodadas Early-Stage, enquanto os estrangeiros, com maior poder de investimento, dominam as rodadas Late-Stage.

investimento por rodada

Concentração de Capital e o Impacto dos Fundadores Estrangeiros

Um dado relevante é que R$ 4,4 bilhões já investidos por Venture Capital no Brasil foram direcionados para apenas 10 empresas, representando 60% de todo o capital de VC e anjos no país, de acordo com dados do Crunchbase. Isso mostra como a estratégia de “the winner takes it all” tem prevalecido no mercado. Outro fato interessante é que metade das startups mais investidas no Brasil foram fundadas por estrangeiros ou imigrantes.

maiores rodadas 2017

Em 2018, começamos a ver um movimento importante de empreendedores com histórico de sucesso retornando ao ecossistema como novos empreendedores ou investidores. Esse ciclo é essencial para o crescimento sustentável do mercado de startups, algo que acontece com frequência no Vale do Silício. Um exemplo notável foi a rodada Series A da Neon, uma das maiores do Brasil, que captou R$ 74 milhões.

investidor venture capital

A maturação do nosso ecossistema tem atraído cada vez mais investidores estrangeiros, que lideram as principais rodadas de investimento em Startups do país. O gráfico acima, junto aos gráficos anteriores, nos sugere que investidores brasileiros costumam liderar maior número de rodadas early-stage (Series Seed e Series A). Já os estrangeiros, de maior poder de investimento, lideram as rodadas late-stage (Series-B em diante).

investidores venture capital

No último ano tivemos a entrada do Softbank, gestor do maior fundo VC do mundo, com quase US$100 bilhões sob gestão, entrando no país através do investimento na 99. Outros fundos são globais relevantes, que costumam investir em diferentes países, e alguns já têm pelos menos três investidas no Brasil, a maioria investindo em Series-B em diante.

startups venture capital

Um ponto interessante é que R$ 4,4 bilhões já investidos por Venture Capital no país foram aportados em apenas 10 empresas. Isso representa 60% de todo capital investido por VC e anjos no Brasil, na história, segundo dados reportado no Crunchbase, o que mostra que “the winner takes it all”. Além disso, outro dado interessante é que, das startups mais investidas no Brasil, cinco delas (a metade) foram fundadas por estrangeiros ou imigrantes.

Contudo, em 2018, estamos começando a ver mais empreendedores com histórico de sucesso de saídas de negócios anteriores voltando ao ecossistema como empreendedores ou investidores. Esse ciclo é muito importante para o desenvolvimento do ecossistema, como ocorreu e ocorre frequentemente no Vale do Silício.

Também em 2018, tivemos uma das maiores Series A brasileira, com a rodada da Neon, que captou R$ 74MM.

O que estamos vendo no portfólio da ACE e quais são os aprendizados?

No portfólio da ACE também temos visto a tendência de maior capital investido em nossas startups, ano a ano. Novos investidores e gestores estão entrando, além de mais veículos de investimento sendo utilizados em diferentes rounds. No entanto, acreditamos que a relação entre oferta e demanda (startups vs. investidores) para investimento em startups ainda é muito baixa quando comparada a algumas regiões mais desenvolvidas.

portfolio venture capital

Dados do Portfolio ACE

Análise das rodadas de investimento do portfólio ACE

Nas 17 rodadas de investimentos levantados pelas startups do portfólio da ACE em 2017, é possível perceber claramente que cada fundo de investimento de VC possui uma tese de investimento bem definida. Por isso, a recomendação para as startups é que conheçam essas teses e qualifiquem sua lista de potenciais investidores de forma mais estratégica, para tornar o processo de captação de capital mais assertivo. Esse alinhamento entre a tese de investimento da startup e o investidor VC é fundamental para aumentar as chances de sucesso.

portfolio ACE

Dados do Portfolio ACE

Evolução dos valores de captação e feedback dos investidores

Em média, as startups do portfólio estão levantando R$ 800 mil nos rounds Seed antes de seguir para uma Série A. Contudo, esse valor está aumentando gradualmente. Nas últimas rodadas Série A, as startups têm captado em torno de R$ 1,2 milhão. Os rounds Seed também estão sendo divididos em várias rodadas menores, o que resulta em menor diluição para os fundadores e ciclos de captação mais curtos.

As startups costumam ouvir, em média, 20 “NÃOs” para cada “SIM” recebido, mas a boa notícia é que um único SIM é o suficiente para seguir em frente. O SIM marca uma grande conquista, embora seja apenas o início de uma nova jornada. Mesmo assim, é crucial investigar os motivos dos NÃOs recebidos. Em processos de captação, acreditamos que é melhor receber um “NÃO” claro do que um “talvez” ou um “vai me mandando notícias”. Quando o NÃO vier, o founder deve sempre buscar feedback objetivo do investidor para entender o que pode ser melhorado ou o que o investidor espera para reconsiderar o investimento.

O que aprendemos com isso?

As tendências de volume de investimentos maiores por rodada têm sido globais, acompanhadas pela redução do número de rodadas de investimento. Por um lado, isso mostra que a barra está subindo para os empreendedores. Apenas os melhores deverão receber investimento VC, e assim teremos algumas startups claramente “campeãs” por estarem mais financiadas. Neste cenário, em alguns mercados, ficará difícil a captação de investimento para as startups que concorrem com essas “campeãs”.

Oportunidades e desafios para startups em rodadas Series-A

Por outro lado, as startups que conseguirem captar deverão ter um runway maior e chegarão mais maduras em rodadas Series-A, o que aumenta o poder de barganha do empreendedor diante dos investidores, trazendo melhores termos para o lado da startup.

Algumas discussões questionam: “Se a rodada Seed é o novo Series A, quem é o novo Seed?”. Essa questão ressalta a crescente relevância dos investimentos “pré-seed”, aceleradoras e a expansão dessa fase até chegar, de fato, à Series-A. Por isso, sem dúvida, é essencial ter um bom planejamento no uso dos recursos durante o estágio Seed para evitar problemas com Captable.

Impactos para investidores seed e a importância das aceleradoras

Para o investidor Seed, poderá haver um aumento do fator de risco e retorno, uma vez que as rodadas estão ficando maiores e uma menor proporção das investidas deverá receber Series-A no futuro.

Essas constatações me fazem acreditar veementemente no valor de uma boa aceleradora. Além do aporte de recursos e da metodologia para crescer mais rápido, a aceleradora oferece um apoio de network, com mentores e investidores, fundamental para tornar a startup atrativa para rodadas Series-A.

Talvez você já tenha visto este gráfico:

razões falha startup

De acordo com a pesquisa da CBInsights, a falta de habilidade de levantar capital e convencer investidores é uma das principais causas do fracasso das startups. Cada vez mais o conhecimento do processo de levantamento de investimento e traquejo dos empreendedores junto a investidores é uma das características mais importantes que os investidores buscam nos empreendedores. Junto a isso tudo, é importante ressaltar a importância de ter em seu grupo de investidores, pessoas com bom network para te apoiar em rodadas seguintes.

 

 

Nossos reports

Números e mapeamentos atualizados sobre o ecossistema e as ferramentas necessárias para os empreendedores ao longo de toda a jornada.

Assine a Growthaholics

Toda segunda-feira, receba as melhores notícias sobre inovação, empreendedorismo e venture capital. Além de comentários do Pedro Waengertner, você também recebe materiais e conteúdos exclusivos da ACE. 

O que é necessário para estar no radar dos maiores VCs do país?

Descubra quais as principais métricas acompanhadas em investimentos de Venture Capital, as tendências em alta para startups e muito mais no Venture Capital Master Guide!