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Saúde Digital: um conceito tão contemporâneo quanto a penicilina

É muito provável que nunca tenhamos falado tanto sobre saúde como nos últimos meses. A crise do coronavírus foi um grande alerta global para o tema, tanto do ponto de vista de saúde pública, quanto do despreparo da sociedade para enfrentar uma crise tão grande como essa, da aceleração da adoção de novas tecnologias (como a telemedicina), da inovação trazida pelas startups healthtechs, do cuidado com o corpo e da mente, entre outros tantos. 

Como a história e a ciência nos ensinam, a penicilina é um antibiótico que surgiu meio que por acaso em 1928, pelo escocês, médico e professor, Alexander Fleming. Desde então, quase 100 anos depois, ela é bastante utilizada no tratamento de infecções causadas por bactérias sensíveis. 

Como anda a saúde?

A medicina, assim como a engenharia, o direito e todas as outras áreas do conhecimento, evoluem com o tempo e impactam a população de várias formas. Inclusive novas áreas surgem à medida que avançamos como civilização. Um termo que ganhou muita força recentemente foi Saúde Mental, que o Google divulgou um aumento de 98% nas buscas em 2020, em relação às buscas nos dez anos anteriores. Um recorde!

A expectativa de vida aumentou muito globalmente. Saímos dos 35 anos na Europa do século 19 para 74 anos no Brasil atual e 80 anos no Chile, nosso vizinho. Falando em longevidade, recentemente emergiu um conceito de mercado que está sendo chamado de economia prateada. Ele diz respeito à parcela da população com mais de 50 anos de idade, ou seja, mais de 50 milhões de brasileiros.

Foram gastos em 2018 cerca de US$8,4 trilhões em saúde globalmente. Estima-se que em 2022 esse valor ultrapasse os US$11,9 trilhões, impulsionado pelo crescimento populacional (1990: 5,3 bilhões de pessoas no mundo e 2020 a estimativa foi de 7,8 bilhões), entre outros fatores.

Decidimos estudar o setor da saúde porque, baseado no nosso propósito de transformar o Brasil por meio da inovação, acreditamos que é o setor com uma das maiores (se não a maior) oportunidades de disrupção por meio de tecnologia e novos modelos de negócios. Mas, acima de tudo, inovar na saúde é impactar a vida de milhões de pessoas. É proporcionar mais qualidade de vida para famílias de todas as classes sociais e, como a penicilina, gerar valor e ser útil para a sociedade por dezenas e até centenas de anos.

Além de telemedicina: como a inovação está transformando a saúde

A revolução das startups, especialmente a partir de 2010, foi o grande motor de transformação de diferentes setores da economia. De hoteis a videlocadoras, e mais recentemente chegou forte na saúde. As healthtechs estão transformando a saúde com novos modelos de convênios médicos, sequenciamento genético, serviços de terapias digitais, receituários totalmente online, medicina diagnóstica, aplicativos de meditação e muitos outros. 

Veja também >> Qual o impacto das healthtechs no mercado de saúde? <<

Observamos um movimento conhecido como unbundling, que é um termo em inglês para desagregação ou dissociação. No ambiente de negócios, é um movimento de transformação de mercados que acontece por meio do desmembramento de grandes conglomerados, com ofertas específicas e mais eficientes. É aqui que as healthtechs estão atacando (e se destacando).

Alguns exemplos de startups que estão a inovar e transformar o mercado:

Viziomed

Utiliza inteligência artificial para diagnóstico de exames de imagens radiológicas, que detectam doenças de forma mais rápida e assertiva. Reúne em um só lugar as melhores IAs do mundo para Radiografia, Mamografia, Tomografia, Ressonância e outros exames de imagem.

Salvus

Por meio da tecnologia IoT (internet das coisas) na gestão de recursos médicos, é possível gerenciar melhor o uso do oxigênio, fazer monitoramento do estoque em tempo real, vigilância e auditoria clínica de tratamento, registro preciso do consumo para a conta médica e emitir alertas automáticos em situações de risco.

Sami 

A startup tem como objetivo melhorar o atendimento de planos de saúde. Por isso possui times de saúde dedicados com serviço de telemedicina disponível 24h, rede médica com hospitais e laboratórios de nível internacional recompensados pela qualidade do atendimento e uma rede de hábitos saudáveis para o cuidado da saúde integral e preventiva.

RadarFit

Com foco na prevenção e estímulo a um estilo de vida saudável, a startup dá prêmios para quem consegue manter bons hábitos. Por meio do que chamam de “o único game fitness do mundo”, disponibilizam online orientações nutricionais, treinos para fazer em casa, tarefas de hidratação e mindfulness.

Zenklub

Com um tipo de serviço muito requisitado durante a pandemia, a proposta é encontrar um psicólogo online e cuidar da saúde emocional sem sair de casa. Oferece acesso a uma rede de terapeutas de todas as especialidades, que apoiam, por exemplo, no controle da ansiedade, auto estima e carreira, além de acesso a conteúdos personalizados para diferentes momentos da vida.

O que podemos esperar dos próximos anos

Todo o setor está passando por grandes mudanças. A transformação digital foi acelerada por conta da pandemia. As startups healthtechs já estão em segundo lugar em volume de investimentos recebidos (só ficam atrás das fintechs do setor financeiro). As grandes empresas despertaram para o conceito de Saúde Digital e os consumidores estão mais conectados do que nunca com uma expectativa de vida que só aumenta.

Olhando de forma muito pragmática e realista, o setor de saúde ainda é bastante atrasado, com diversas reservas de mercado, lideranças antigas e com lentidão para adotar novas tecnologias. Sabendo de tudo isso, as big techs como Amazon, Google, Apple e Facebook vislumbram muitas oportunidades.

Por exemplo, em parceria com a startup Crossover Health, a Amazon está abrindo clínicas de cuidados primários para os funcionários da empresa em algumas cidades dos EUA. Além disso, há outra iniciativa chamada Amazon Care, um serviço que permite aos usuários consulta médica online, receitas de medicamentos e até atendimento domiciliar.

A Inteligência Artificial continuará a desempenhar um papel importante, especialmente quando falamos do surgimento de novas tecnologias. Há muito a se desenvolver com IA e impacto direto na evolução da biologia sintética, genética e imagens médicas, prever a propagação de doenças, melhorar os resultados de saúde dos pacientes e muitas outras aplicações. 

A crise do COVID-19 acelerou também a adoção de bancos de dados genéticos universais. Com isso, à medida que o sequenciamento do genoma se torna mais acessível, alguns biohackers estão usando os resultados do DNA para manipular nutricionalmente seus corpos, segundo a Amy Webb, fundadora do The Future Today Institute, em seu relatório Tech Trends Reports 2021.

Isso chama a atenção para uma revolução da nutrição. Reflete inclusive em um mercado relativamente novo, o de vitaminas feitas de forma customizada para cada paciente, que varia entre suporte na alimentação diária, prevenção de doenças respiratórias, imunidade, memória e concentração.

Os cuidados com a saúde mental e bem-estar entraram definitivamente na pauta dos times de recursos humanos das empresas. E essas tendências, que envolvem diretamente as healthtechs, já estavam em movimento antes mesmo de serem potencializadas pela pandemia. Segundo o instituto de pesquisa Grand View Research, em seu relatório Corporate Wellness Market Size & Share Report, o mercado global de bem-estar corporativo foi de US$ 52,8 bilhões em 2020 e deve crescer a uma taxa anual de 7,0% entre 2021 e 2028.

Veremos o surgimento de plataformas focadas em saúde mental e inteligência emocional baseadas em conteúdo. Esse é o caso da revista Vida Simples, especializada em conteúdos de bem estar emocional desde seu lançamento. E ela está evoluindo sua atuação e proposta de valor para uma plataforma digital completa de serviços de bem-estar.

Constataremos cada vez mais uma troca de experiências e aprendizados entre grandes empresas e startups. As grandes passarão a utilizar a tecnologia como meio e não fim, implementar uma cultura de inovação e experimentação e, principalmente, colocar o cliente no centro para gerar valor em toda sua jornada. Enquanto as startups, por sua vez, se beneficiarão do acesso a um número grande de clientes dessas empresas, profissionais extremamente qualificados e anos de experiência, que podem acelerar seu crescimento e curva de aprendizados.

Uma tendência que já é realidade

Esse relacionamento tem como evolução natural o caminho do M&A, no caso das empresas com as startups. E o recebimento de grandes rodadas de investimentos smart money e até IPO, no caso das startups. A líder de mercado Bionexo, que oferece soluções digitais que permitem que fornecedores e compradores interajam de forma fácil, rápida e inteligente, adquiriu 3 empresas nos últimos anos. A Stone, startup que fez seu IPO e atua com meios de pagamento, adquiriu a startup Vitta de gestão de planos de saúde corporativos.

Quando a Hapvida e a NotreDame Intermédica confirmam uma fusão entre as empresas, que são as duas maiores operadoras de planos de saúde do país, criam um negócio com mais de 13 milhões de usuários e receita combinada de R$ 18,2 bilhões. Surge um gigante!

Por exemplo, o grupo Fleury lança para o mercado o Saúde iD, uma plataforma que viabiliza interações que criam valor entre clientes e prestadores de serviço, integra produtos e serviços de saúde, otimizando a jornada do paciente.

Por outro lado, o Sabin lança a startup Rita, um centro de saúde online com serviços da empresa já com plano de evolução para uma oferta combinada com outros laboratórios, telemedicina e farmácias. Isso quer dizer estamos vendo um movimento importante de agregar a oferta de produtos e serviços em um verdadeiro ecossistema digital integrado. Surge assim o one stop shop da saúde!

A modalidade de inovação que vai viabilizar esse tipo de transformação, e tantos outros nesse contexto, é o Corporate Venture Capital (CVC), que estrutura, planeja e opera investimentos de fundos e grandes players do setor, realiza parcerias com startups, desenvolve novos negócios e viabiliza M&As estratégicos.

Nesse sentido, fica claro que é praticamente impossível inovar e transformar todo um setor de forma isolada. Por isso veremos com muita intensidade a atuação conjunta entre profissionais e executivos das empresas, empreendedores das startups e os novos modelos de consultorias de inovação, que têm como diferenciais o foco na execução, experiência prática de negócios e, principalmente, compromisso com o resultados reais, ou seja, transformação.

Como disse no início do texto, inovar na saúde é impactar a vida de milhões de pessoas, proporcionar mais qualidade de vida para famílias de todas as classes sociais e, como a penicilina, gerar valor e ser útil para a sociedade por dezenas e até centenas de anos.

inovação na saúde

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